quinta-feira, 18 de julho de 2013

Sequer esperaram Mandela morrer

Mandela e parte da família
Mandela e parte da família

Do site alemão DW

O contraste não poderia ser maior. Desde o início de julho, Nelson Mandela, de 94 anos, está na unidade de cuidados intensivos do hospital em Pretória e respira com a ajuda de aparelhos. Enquanto a nação assiste preocupada ao destino do Prémio Nobel sul-africano, a família luta entre si pelo local onde será sepultado.
Desta vez, o protagonista da história é Mandla Mandela, neto de Nelson Mandela. Ele é o descendente masculino mais velho da tradicional família AmaThembu, à qual os Mandelas pertencem.
Há dois anos, ele deixou - aparentemente com a bênção de seu avô, mas sem o consenso do restante da família - que os restos mortais de três filhos de Nelson Mandela fossem transferidos da sepultura da família em Qunu, onde Nelson Mandela passou grande parte da infância, para Mvezo, localidade a poucos quilômetros de distância onde o ícone da liberdade nasceu.

Parque temático sobre Mandela?

Mandla provavelmente esperava que a sua vila e ele próprio beneficiassem do grande nome da família. Há rumores de que Mandla queria construir uma espécie de “parque temático Mandela” em Mvezo e que mais tarde, como chefe da família Mandela, exigiria também os direitos sobre o túmulo de Nelson Mandela. Com isso, poderia atrair milhares de turistas e peregrinos a Mvezo.
Esta quarta-feira (03.07), a DW-África tentou perguntar a Mandla sobre os seus planos, mas a resposta foi negativa já na entrada de sua propriedade em Mvezo. No entanto, devido à repercussão do caso, esta quinta-feira (04.07) o neto de Mandela falou à imprensa e acusou parte da sua família de querer controlar a herança do seu avô.
“O desejo do meu avô permanece um segredo”, declarou, acrescentando ter recebido instruções da tia para remover os restos e enterrá-los num local secreto em Qunu, onde ela está a preparar um túmulo para Nelson Mandela. “Porque esta instrução não veio do meu avô, eu não a segui. Trouxe os restos temporariamente para Mvezo até que saibamos quais são os desejos do meu avô ou da sua esposa, Graça Machel”, acrescentou.
Na semana passada, a filha mais velha do ex-presidente da África do Sul, Makaziwe Mandela, em nome da família, processou Mandla Mandela pela transferência dos corpos de Qunu para Mvezo. Esta quarta-feira, um tribunal decidiu que a sua atitude foi ilegal e que os restos mortais dos Mandela devem ser novamente enterrados na sepultura da família, em Qunu.

Batalha pelo legado de Mandela

Essas tensões não terminarão facilmente. Mas estou impressionado com a forma e a frequência com a qual a família se encontra para falar sobre o assunto. Porque se eles não fazem isso, irão ofender Madiba de uma forma ou de outra”, afirmou Bantu Holomisa, um amigo próximo dos Mandela, após uma reunião de família realizada no início da semana.
Em abril, Makaziwe e Zenani, filhas de Madiba – nome pelo qual Mandela é chamado pelos sul-africanos - tentaram destituir a direção de duas empresas do seu pai, ambas criadas para as crianças de Mandela. As empresas gerem a receita da marca do nome da família que as irmãs também querem garantir para si com uma ação judicial.
“Na verdade, é uma batalha pelo legado de Mandela e os seus bens”, considera Sabelo Mavikinduku Ngwenya, analista político e advogado em Joanesburgo. “É uma estratégia daquela parte da família que se sente mais fraca. Eles estão a tentar acertar a autoridade de cada um, antes da partida de Mandela”, esclarece.
O processo pelo património continua e é dirigido contra três dos mais velhos e leais companheiros de Nelson Mandela, que dirigem as empresas. No próximo dia 18 de julho, o vencedor do Prémio Nobel completa 95 anos. Uma nação inteira espera poder comemorar este dia com ele, em plena consciência e sem disputas familiares.


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