segunda-feira, 15 de julho de 2013

Meu Rembrandt favorito (que não era um Rembrandt)



Por Oziella Inocêncio

A primeira vez que vi uma reprodução de um quadro de Rembrandt van Rijn foi em uma biblioteca da cidade onde morava, Alagoa Grande (PB). Na verdade buscava mais informações sobre Leonardo da Vinci, para um trabalho de História proposto pelo Centro de Treinamento, escola estadual onde fazia a 5ª série. O livro era gigante e havia muitos pintores lá, mas uma imagem havia especialmente chamado a minha atenção, "O Homem com o Capacete de Ouro". Lembrei de imediato do meu avô, o que foi inusitado porque ele morreu quando eu tinha dois anos de idade  e sua lembrança física não existia para mim. Fato é que embora tenha visto algumas fotos - e não, ele não se parece com o retratado - aquele gesto evocativo e circunspecto do homem idoso olhando pensativamente para baixo, com um rosto austero, plácido e forte - fez com que de algum modo rememorasse a figura dele, que permaneceu como uma referência constante para a minha família quando se trata de trabalho, responsabilidade, perseverança. Olhar aquele retrato e pensar "se eu fosse desenhar meu avô, desenharia ele assim", fez com que jamais esquecesse o quadro e o autor. Começou aí meu gosto pela pintura.

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Mais tarde, li algumas biografias e livros acerca da obra de Rembrandt e descobri que há controvérsias acerca da autoria do quadro "O Homem com o Capacete de Ouro". Em 1985, um historiador de arte e especialista em pinturas holandesas, chamado Jan Kelch, disse que o retrato provavelmente foi pintado em 1650 por um dos alunos do mestre holandês, o que, é óbvio, não diminui em nada a qualidade magistral do trabalho. De acordo com Kelch, a tela foi pintada com camadas muito espessas, um método que Rembrandt jamais usou. A essa altura, ademais, isso também não me importou muito, afinal um outro aspecto, desta feita pessoal, já havia me encantado mais que qualquer coisa na obra artista. 
A história é famosa. Reza a lenda que em 1642, Rembrandt entregou uma obra que pintara sob encomenda. Era a chamada "A Ronda Noturna" (que, hoje se sabe, não era ronda nem noturna*). O cliente a rejeitou, acusando o artista de "não ter pintado seu retrato", de ter representado "o cenário de uma ópera bufa" e de ter cobrado um preço "muito alto". Nos debates que se seguiram, o pintor foi enfim acusado de "pintar só o que queria". 
Especialistas em Rembrandt reforçam a ideia de que ele fazia do ofício de pintar não apenas o que lhe pagavam, mas primava pelo conjunto, pela correção estética para além do que lhe rendia a pintura. Noutras palavras: não era adepto da mercantilização da arte tão em voga em seu tempo e também nos dias de hoje. O dinheiro importava sim, mas a harmonia da obra igualmente. Por essa conduta em relação a sua arte, talvez Rembrandt van Rijn tenha pagado um alto preço: morreu na miséria.  

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O pintor completaria seu 407º aniversário nesta segunda-feira (15). Nascido em 1606, Rembrandt é um aclamado artista barroco e autor de obras conhecidas, a exemplo de "O retorno do filho pródigo" e "Jacó abençoa os filhos de José". Ele é lembrado pelo contraste entre o claro e escuro em seus quadros, sendo conhecido como o mestre das luzes e sombras. A pintura de Rembrandt tem três temas recorrentes: a temática sacra, os retratos grupais e os autorretratos.




* "A Ronda Noturna" recebeu este nome devido a um equívoco de historiadores. Não se trata de uma cena noturna, mas sim vespertina. A obscuridade é devida ao escurecimento do verniz que foi aplicado sobre a tela. É um retrato grupal e apresenta a partida da companhia do capitão Cocq para recepcionar a rainha Maria de Médici, da França. O título correto da pintura é "A companhia de milícia do capitão Frans Banning Cocq e do Tenente Willen van Ruytenburch".



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