sexta-feira, 14 de junho de 2013

Repressão em São Paulo tem cheiro de Ditadura Militar


Por Sheila Dutra
Do Observe Bem

Nessa quinta-feira, os paulistanos viram a face monstruosa da ditadura vociferando nas ruas da cidade. Para muitos, as cenas de repressão da polícia contra a manifestação que pedia o fim do aumento da passagem eram dignas do regime militar. Ou até piores.

O que ficou claro é que está proibida qualquer manifestação.

Mesmo antes do início da manifestação, dezenas de manifestantes foram presos. Nas estações de metrô, mochilas e bolsas eram revistadas. Pessoas foram presas até mesmo por portar vinagre, que é utilizado para neutralizar o efeito do gás tóxico das bombas. Nem mesmo o direito de se proteger foi dado aos manifestantes.

A imprensa capitalista fala no “vandalismo” dos manifestantes para justificar a ação policial. Mas nessa quinta, os cerca de 20 mil manifestantes que se reuniram em frente ao Teatro Municipal subiam tranquilamente a Rua da Consolação, quando a polícia começou a dispersar a mobilização violentamente. Fazer uma passeata tornou-se crime.

Após a dispersão da passeata pea polícia, o que se viu foi uma verdadeira caça aos manifestantes. A polícia encurralou parte dos manifestantes nas ruas laterais e jogou bombas de gás lacrimogêno no meio das pessoas, que não tinham onde se refugiar e ficavam tossindo, sufocadas, com a pele queimando pelo gás.

Em diversos momentos, manifestantes, parados, gritavam “sem violência” e a polícia não hesitou em atirar com bala de borracha diretamente contra eles.  Em outros momentos, viu-se policiais atirando a queima roupa em pessoas caídas no chão ou simplesmente em pessoas que estavam paradas ou sentadas nos arredores.

Após esvaziar a Rua da Consolação, camburões da Tropa de Choque desciam a rua na contramão fazendo uma varredura, de armas em punho e holofotes, cuja luz forte lançavam sobre os transeuntes. Qualquer “suspeito” era imediatamente atingido ou levado preso. Um clima de terror e perseguição, que lembra os filmes de nazistas à procura dos judeus pelas ruas.

Até mesmo os funcionários dos escritórios da Avenida Paulista, que desciam para ver o que estava acontecendo eram atingidos por bombas de gás lacrimogêneo e obrigados a voltar para dentro dos prédios. Diversos manifestantes relataram que foram acolhidos por moradores da região e pelos lojistas (os mesmos que supostamente estavam preocupados com os manifestantes) para se refugiarem da brutalidade policial. Postos de gasolina, lanchonetes e outros também não ficaram imunes. O G1 informou que em um bar, a polícia deteve duas pessoas sem motivo aparente, um inclusive foi abordado e levado quando saía do banheiro.

A cavalaria foi chamada e passava pelas ruas batendo em quem estivesse pelo caminho, manifestantes ou não.

Foram tantas balas de borracha, cacetadas e bombas, que era difícil um manifestante que não carregasse alguma marca da repressão do dia e não foram poucas as pessoas que passaram mal e desmaiaram. A imprensa burguesa noticiou inclusive que um morador da região teve um ataque cardíaco.

Com o avanço do batalhão de Choque até mesmo a imprensa burguesa corria e não é para menos: a polícia não hesitou em lançar bombas de gás no meio da coluna da imprensa. A Folha de S. Paulo informa que sete de seus repórteres foram atingidos, pelo menos dois no rosto, todos identificados. Um jornalista da Record foi atingido na perna e houve pelo menos um preso. Isso mostra não apenas que as prisões e a repressão foram totalmente arbitrárias em geral, como que atualmente a imprensa é menos respeitada pela polícia do que na própria ditadura militar.

Dentro do metrô, a PM estava procurando confiscar os cartões de memórias dos jornalistas. Pessoas que passavam declararam que viram um jornalista jogando o cartão de memória para um colega, para não ter as imagens confiscadas pela polícia. Não há mais sombra de liberdade de imprensa.

Às 23h a polícia noticiou que 149 pessoas foram detidas, duas horas depois o número subiu para 192, mas antes ela havia se recusado a divulgar a quantidade e os nomes dos detidos, como se estivessem incomunicáveis.

Os manifestantes não foram presos porque cometeram “crimes”, nem porque “vandalizaram” lojas e patrimônio público, nem porque portavam drogas ou substâncias perigosas. Essas alegações, quase sempre inventadas, sempre foram uma desculpa para justificar a repressão policial. Nessa quinta-feira, nem mesmo conseguiram forjar um pretexto, nem disfarçaram a repressão.

As pessoas foram presas simplesmente porque estavam se manifestando. Como não lembrar das passeatas no Brasil em 1968, quando os manifestantes se dispersavam e se reuniam de novo para fugir à repressão policial?

Da mesma maneira atuava, por exemplo, o exército nazista na França, que atirou e perseguiu pelas ruas os estudantes que se reuniram sob o Arco do Triunfo contra a ocupação do seu país.

Eles faziam isso porque essas ditaduras, como toda ditadura, proibiam as manifestações; porque se manifestar era crime.

No Brasil, hoje, acontece o mesmo. Os direitos políticos da população foram confiscados; a própria manifestação virou crime. A ditadura que ainda permanece mostrou novamente sua cara.

É preciso ampliar ainda mais as mobilizações, que mostram que a luta é sobretudo pelos direitos que o fim da ditadura não nos devolveu; o de protestar, de se manifestar, de exigir: o primeiro direito que é abolido quando querem nos retirar todos os direitos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário