sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher ou festa de políticos e comerciantes?


Por Juliana Hércules
Da Revista Observe Bem


Hoje é o Dia da Mulher, certo? Mas quem faz a festa não são elas: o que começou como um protesto (o massacre, em 1857, em Chicago, de 129 operárias têxteis que reivindicavam jornada de trabalho de 10 horas diárias), acabou se tornando mais uma data que os políticos se utilizam para aparecer e que o comércio aproveita para vender mais. Ainda não chegamos ao ponto de dar presentes às mulheres porque é o seu dia, mas as floriculturas já faturam bastante, da mesma forma que no Dia da Secretária, no Dia das Mães e tantos outros.
 
Tanto políticos como comerciantes fazem um investimento de longo prazo. Os primeiros aproveitam para mostrar o quanto são feministas, dizem que lutam pela igualdade e que merecem um voto. Os comerciantes, por sua vez, dão flores às mulheres que passam na rua, na esperança de que elas entrem na loja e comprem alguma coisinha.

Os taxistas dizem "Parabéns" a todas as mulheres que entram nos veículos, as firmas entregaram rosas para as mulheres (porque elas são frágeis, coitadas!), salões de beleza e clínicas de estética dão de presente descontos em coloração de cabelo (porque não podemos ter cabelo branco), depilação (temos que ter os pelos da moda) e tratamentos antienvelhecimento (porque, claro, não podemos envelhecer).

Por que o aborto não é liberado? Por que temos jornada dupla? Por que o seviço doméstico cabe as mulheres? Por que a mulher que não casa ainda é mal vista pelo sociedade? Era para ser uma data em que pensaríamos sobre diversos aspectos importantes da nossa realidade hoje, mas o Dia da Mulher tornou-se uma data machista e consumista.
 
Qual imagem hoje a mídia transmite da mulher? As revistas femininas insistem nos itens beleza, moda e na infalível dieta mensal. A indústria farmacêutica promete, por meio de seus serviços de imprensa, a cada dia um novo remédio milagroso para emagrecer e rejuvenescer. E os jornais insistem em diferenciar seus leitores: para os homens, páginas de política economia, esportes e polícia. E para as mulheres um singelo caderno feminino ou de variedades.
 
Enquanto as mulheres continuarem ganhando flores por serem mulheres, e os políticos dedicarem um dia de discursos a elas, é porque ainda não fomos reconhecidas como ser humano pleno. Se é preciso um dia no ano para alguém ser valorizado é porque alguma coisa está mesmo muito errada.

Calendário Sentimental/Anual do Capitalismo


O "Calendário Sentimental/Anual do Capitalismo" segue as nossas paixões, laços familiares, relações interpessoais, crença e estilo de vida, com o único intuito de nos fazer consumir. Iniciamos o ano fazendo uma "renovação". Ano Novo, Vida Nova e novas necessidades de consumo. É o famoso bordão “Ano Novo, Tudo Novo”.
 
Passada a euforia no “Happy New Year”, temos agora (diga-se de passagem, para quem gosta) o Carnaval. Este é o momento de continuarmos extravasando nossas energias e com elas nossos bolsos. O que significa mais gasto. Porque Carnaval é o tempo de descanso de muita gente, férias e viagem, que obviamente custam caro. Ou seja, novamente o capitalismo criando e determinando novas necessidades.

Depois das férias, chega o tempo de organizar a casa ainda em ritmo de comemoração, (ou extorsão, como queiram). Começamos março, e neste mês temos o Dia Internacional da Mulher, que já perdeu seu significado histórico há muito tempo e ganhou a roupagem mercantil.
 
Iniciamos abril nada mais e nada menos com a Páscoa, mês cristão que fecha o período da Quaresma trazido pelo Carnaval. A enchente de ovos de chocolate que enfeitam as lojas de conveniência da cidade, os grandes centros comerciais, peixes de todos os tipos, vinhos, etc.
 
Passado o abuso do capital com a fé cristã, entra maio e com ele o Dia das Mães. Qual é o filho desnaturado que se atreve a não comprar aquele perfuminho de marca famosa ou celular de última geração para compensar o descaso que teve com a sua genitora durante todo o ano?  Junho, Dia dos Namorados, São João; Julho, Dia do Amigo; Agosto, Dia dos Pais e assim vai até chegar dezembro, o ápice do consumo.

A nós consumidores, fica a pergunta: Vamos deixar que o capital nos imponha até os nossos sentimentos? Compramos por culpa, para não deixar de presentear os que amamos como todos estão fazendo naquela data específica? Os sentimentos precisam ser traduzidos por objetos que achamos bonitos em lojas e damos a alguém?

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